sexta-feira, 29 de maio de 2015

Adeus!

Maio lhe abraçou. Talvez você tivesse, lá no fundo, uma certa esperança de que setembro chegaria. Outro ciclo, outro aniversário. Talvez estivesse ali, por debaixo daquele corpo inerte que respirava e entendia o mundo sem poder se manifestar... Talvez ali você dissesse para si mesma: setembro vai chegar. Talvez ainda sonhasse com algum presente, será?

Ou talvez só estivesse esperando que aquele sofrimento chegasse ao fim. E chegou, junto com a vida. Maio lhe abraçou, forte, e levou pelos braços quem tantas vezes passou por ele correndo e feliz, saltitando de emoção enquanto setembro ia se aproximando.

E o alívio de ver pela última vez aquele rosto não franzido de agonia, mas sereno adormecido, surgiu em mim quase como culpa. Quase senti repulsa por me sentir aliviado com a morte. Mas não era descabido esse alívio, era justo. Era misericordioso...

O baque seco da primeira pá de terra sobre a madeira me fez entender pela primeira vez: era o fim. Aquele rosto agora estará apenas na lembrança... Nos sonhos e nas fotografias amareladas. Você se foi, com toda a sua candura, e todos aqueles anos sofridos carregados nas costas.


Nessas horas eu queria acreditar em deus. Achar que tudo faz sentido, e que tanto sofrimento em terra seria compensado pela alegria eterna no paraíso. Mas a única coisa que posso tirar disso tudo é: a vida acaba. É preciso vivê-la intensamente, em cada segundo, pois mais dia menos dia, vem um maio - ou setembro, ou dezembro - e nos abraça forte... Fecharemos os olhos e não ouviremos o baque seco da terra sobre a madeira que está acima de nós. Nem o choro dos que ficam, nem o riso dos que críamos que iriam nos receber. 

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