quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Efêmero

Foi quase. Quase um desespero, um grito abafado, quase um soluço. Foi quase uma vida, foi quase um amor. Quase deu certo, por pouco não rolou. Foi assim, foi quase. A vida inteira dele havia sido quase. Quase triste, quase feliz, quase lindo, quase quase.

Quase se formou, quase teve um bom emprego, quase foi promovido, quase se casou.

E a ânsia medonha desse meio-termo xôxo era o que mais o afligia. Seja quente ou seja frio, porque se for morno, eu te vomito. Mas era morno e ele sequer conseguia vomitar. Ser obrigado a conviver com a própria mediocridade dia após dia é uma pena pra lá de cruel. É desumana.

A teoria do caos diz que o bater das asas de uma borboleta pode gerar um tufão do outro lado do mundo. E se fosse assim? E se uma borboleta tivesse batido as asas em algum momento lá no passado? E se ele não tivesse nunca ido àquela festa? Ou acertado aquela última questão da prova? Se ela nunca o tivesse convidado para sair? Se ele nunca tivesse quase se apaixonado? E se ela nunca tivesse quase tentado fazer dar certo? E se eles nunca tivessem quase se casado?

O medo não é da altura, é da queda. Andar na beirada não é o problema, não cair e nem recuar é que é. A vida é breve, ou quase breve. Todos são ótimos em alguma coisa e horríveis em tantas outras. Extremamente bem sucedidos nos negócios, uma negação no amor. Genial com números e uma aberração com palavras. Um gênio da prosa e uma mula dos cálculos. Ele não. Ele era mediano em tudo. Era nota cinco. Era insosso, era cinza. Era despercebido, era quase. 

Era quase, e ser quase na vida foi a sua sina. E a vida inteira, quase viveu. E quase viver é pior do que morrer. 

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